segunda-feira, 20 de novembro de 2006

"O meu funeral"

Hoje tornei-me imortal.
Estou morto,
não me procurem debaixo da terra
não se percam por entre esse jardim branco
não vou estar na mesquinha misericórdia das flores de plástico
nem nas fotos beijadas pelo sol
de um momento em que parecia feliz,

eu estou entre vós,
no meio de uma biblioteca escura, entre os meus irmãos,
estou aqui e alem, por entre sorrisos ou memórias alegres
estou nos olhos dos meus filhos.
O meu sangue está nas páginas dos meus livros
meu desejo, na boca da minha mulher.


Pois que não tenham vergonha ou medo
gritem dentro de vós em poesia e música e artes sonhadas!
a minha voz é guitarra!
o meu coração é poesia!
e a minha alma continua livre!

Imaginem que fui ao café e que volto já…
pois estou tão vivo como em qual quer outro dia.


Pedro Afonso

In "Artifices das Palavras"

 

1 comentário:

OliverwithaTwist disse...

Tal como em ti, em mim a vida e a morte estão para alem de um campo deprimente de almas penadas!
Não é facil impressionar-me com poesia, mas conseguiste! Tocaste no fundo da minha memória (e isto poucos entendem) e convicção de que a palavra está para alem de nós!