Com cheiro colorido
em tom amarelado ou branco
firme ou derretido
Eis o queijo,
de forma circularmente perfeita
cheio de rugas de meia cura
entre os véus brancos da tua maternidade,
adoras aconchegar-te
entre a superfície escarpada do pão torrado
junto ao jubilo de uma manha raiada,
abençoas o novo dia com o sabor tão teu
inerte,
junto à faca luminosa da nossa fome
arregalas o teu aroma singular.
Lembro-me de ti
transbordando a vontade
de mergulhar uma colher em teu corpo alentejano
barrar-te,
vagarosamente sobre a tarde de verão
sobre o pão quente.
E a maravilha de te embeber
num vinho maduro entre os meus lábios
provar a tua história tradicionalmente artesanal
e viajar pelos prados verdes
os vales imensos da minha terra.
Tu queijo
símbolo do prazer sábio
da fome com classe
do jeito pobre cheio de grandeza
iguaria elementar de uma boa mesa,
veste-te,
com esse gosto cru
indiferente as coisas externas
e casa-te em minha casa
desvanece na minha boca…
Pedro Afonso
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