sábado, 18 de novembro de 2006

"Distante"

Serei porventura o gesto calmo depois do sexo?
ou os movimentos circulares dos astros?
vou confundir-me com a luz translúcida,
o tom magenta que me acorda.
Devolvo à vida o veneno
as palavras que deixei perto do cinzeiro…

Serei hoje pobre,
Condimento as minhas refeições com o sal do meu esforço.
Serei mais logo a miséria.
os braços abertos
a navalha entre os lençóis.

Devolve-me o ar imaculado da minha aflição,
traz-me de volta o céu limpo
as estações
o nadar dos peixes
a cadeia de necessidades
os espaços negros
e os mistérios que passarei a vida a desvendar.

Sou a memória
o espectro acumulado de um futuro vazio,
restrinjo-me,
e aprecio cada olhar que me investiga
entre a multidões anónimas, na solidão,
bebo devagar a satisfação de uma gargalhada
e guardo para amanha o sonho que deixei a meio,
vou pelo caminho mais longo
pela rua do cansaço,
só para existir durante mais tempo
o pensamento egoísta de quem sofre sozinho.

Perguntei aos livros para onde vou
murmurei a fogo o meu destino
guardei no silêncio a minha alma em testamento.


Pedro Afonso

1 comentário:

Deizz disse...

é com satisfação que te vejo por aqui. acho óptimo poderes partilhar as tuas palavras com toda a gente. seja de que forma for.
habitua-nos.
de resto os meus comentários...já os tiveste eheh
muolti baci