Observo os poemas da natureza
cada falésia, cada brisa de Maio
cada oceano, cada deserto, cada floresta
cada altar selvagem, virgem...
forjado pela mãe de todos nós,
vejo e sinto os meus versos transformarem-se em últimos suspiros
fecho os olhos...e sinto o calor do sol a esvair-se enquanto morre,
contemplo a mulher lua,
que brilho, toda vestida de seda, toda aprumada para a noite
espalha seu sudário branco sobre o mar
com a promessa de rever um novo mundo amanhã,
observo aquele casal,
rodeados por uma multidão, nem reparam,
ele chora
ela não o quer mais...
o mundo para eles não existe
só as lágrimas dele e o pranto dela,
observo o que ninguém vê...
olho para porta do cemitério, junto aos ciprestes,
a mãe leva o filho pela mão
para junto da campa do pai,
vejo a inocência da criança.
a dor no olhar da mãe.
Observo a morte e a vida
gastas, cansadas...
observo a renúncia de um equilíbrio
a vontade perdida da morte gasta
o desejo por encontrar de uma vida.
Pedro Afonso
In "O Gesto do Vento"
3 comentários:
Talvez a unica coisa que falta ao observador, seja observar-se a si proprio...
Fantástica Observação.
A discrição do ambiente que rodeia o observador, os espaços, as pessoas os tempos, as situações...
Maravilhoso deleite beber assim as palavras
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